O que acontece quando o poder e a dominação são postos em cena, não apenas como conceitos abstratos, mas como forças que moldam a criação artística? Em Sangue, espetáculo escrito e dirigido por Kiko Marques, a resposta é clara: um olhar brutal sobre as dinâmicas de controle, posse e resistência. Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília até 6 de abril, a peça mergulha em um universo onde as relações humanas, travadas sob o véu da arte, revelam suas formas mais cruéis e implacáveis.
O texto é inspirado por um episódio real vivido por Marques e sua equipe, quando um projeto artístico foi bloqueado devido a questões de direitos autorais. Esse acontecimento, aparentemente simples, se transforma aqui em um grito contra as imposições externas sobre a criação e o pertencimento. “Sangue” conta a história de dois atores que, no processo de montagem de uma obra de um grande autor francês, se veem despojados de seus direitos autorais, abrindo um debate sobre a relação entre poder, arte e a luta pela posse da criação intelectual.

Com uma equipe talentosa composta pelos atores Carol Gonzalez, Leopoldo Pacheco, Marcos Suchara e Rogério Brito, o espetáculo mistura fábula e realidade, construindo um poema cênico que reflete sobre as várias formas de guerra, dominação e fraternidade que surgem quando o outro é visto como objeto de posse. “É uma história sobre a necessidade de controlar o outro, mas também sobre a fraternidade que pode surgir nos momentos mais inesperados”, explica Kiko Marques, que também assina a direção.
A peça é, em grande parte, uma crítica ao sistema artístico contemporâneo e à exploração do trabalho criativo, refletindo sobre as implicações de um olhar eurocêntrico e as questões de gênero que se entrelaçam no conflito. O relacionamento entre o diretor francês e a atriz brasileira, que inicia com uma aparente relação amorosa, logo se revela um campo fértil para discussões sobre a violência de gênero e o poder do olhar colonial.

Para Marques, o espetáculo não é apenas uma crítica, mas também uma tentativa de desvelar os bastidores da arte teatral. “Quis abrir a porta da nossa casa, os bastidores do teatro, para que o espectador conhecesse as pessoas envolvidas com o fazer teatral, seus anseios e suas paixões”, explica o diretor, convidando o público a refletir sobre as complexas interações entre quem cria e quem consome a arte.
“Sangue” é mais do que um drama sobre a perda dos direitos autorais. É uma reflexão pungente sobre a natureza humana, sobre como as relações de poder permeiam até os campos mais criativos e sensíveis da nossa sociedade. Com a indicação de Rogério Brito ao Prêmio Shell de Teatro, o espetáculo segue sua bem-sucedida trajetória, já tendo ado pelos CCBB São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, conquistando público e crítica.
Serviço:
Espetáculo Sangue
Temporada: de 13 de março de 2025 a 6 de abril de 2025
Horário: Quinta a sábado, às 20h | domingo, às 18h
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 100 min
Ingressos: R$ 30 | R$ 15 meia
Ingressos