O CCBB Brasília traz ao público o espetáculo teatral Ípsilon, em cartaz de 14 a 25 de agosto, que marca a estreia de Guylherme Almeida na dramaturgia e direção teatral, trazendo à tona uma narrativa profundamente pessoal e impactante. As sessões dos espetáculos acontecem de quarta a sábado, às 20h e aos domingos, às 18h. Os ingressos, a preços populares de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), estarão disponíveis no site www.bb.com.br/cultura e na bilheteria física.
Inspirado na trágica morte de seu pai, José do Nascimento, Guylherme transforma luto em arte, abordando a resistência do povo negro. Com trilha sonora original, desenho de luz único e um cenário composto por pneus, Ípsilon oferece uma experiência sensorial que transcende o palco, refletindo as vivências marginalizadas de Brasília e Recife.
O espetáculo é um testemunho visual das lutas enfrentadas por quem sente a dor de não pertencer. Em setembro de 2022, o G1 noticiou: “O corpo de um homem de 47 anos foi encontrado carbonizado no Riacho Fundo I, no Distrito Federal. De acordo com a 29a Delegacia de Polícia, a vítima foi identificada como José Fernandes do Nascimento. Ainda segundo a corporação, o homem atuava como montador de móveis e tinha histórico de envolvimento com uso de drogas. A polícia investiga a hipótese de homicídio, devido à condição em que o corpo foi encontrado”.

A matéria não informa, mas José Fernandes deixou pelo menos um filho: Guylherme de Almeida, experiente produtor cultural de Brasília, curador de eventos importantes como Aniversário de Brasília, Réveillon de Brasília, Festival Ibero-americano de Artes Integradas, artista preto, periférico, que estreia na dramaturgia e na direção teatral neste espetáculo, contando parte da própria história.
Mas esse enredo não nasce originalmente do seu pai. Antes mesmo de perder afigura paterna queimado vivo num cemitério de pneus na periferia do Distrito Federal – Guylherme já estava debruçado sobre a trajetória de figuras pretas importantes, como Carolina de Jesus, Mãe Carol Jemison e Judith Jamison, na expectativa de escrever um espetáculo autoral sobre as conquistas da população negra. Foi então que esses estudos acabaram atravessados pelo assassinato do pai e, em vez de vivenciar o luto afastado, preferiu incorporá-lo ao processo criativo.
Assim, surgiu a protagonista Carolyna (com ípsilon), uma astronauta que retorna à cidade e descobre que o município onde nasceu foi reduzido a um aterro sanitário de pneus. Coube à atriz Juliana Plasmo encarar o papel dessa astronauta, capaz de viver no espaço, mas incerta se conseguirá sobreviver à própria terra natal, limitada à fumaça, pneus e abandono, em analogias que parecem perar, em alguma medida, toda narrativa preta.

Construída a partir de vivências nas favelas de Brasília e Recife, a peça apresentada pelo Banco do Brasil, com apoio do FAC-DF, conta com trilha sonora original, um desenho de luz único, além do pungente cenário de pneus, que geram um desenho cênico como há tempos não se via na cena do teatro brasileiro. O resultado é um impactante e sensível debate social provocado por quem tem legitimidade e conhece, como poucos, a dor de não pertencer.
Contrariando os indicadores sociais, Guylherme Almeida nasce em um núcleo familiar precário, na periferia da capital federal, e, mesmo sem recursos financeiros, se torna um dos mais concorridos produtores do país, com mais de 60 produções no currículo. Depois de rodar festivais de teatro em todo o mundo, Guylherme (com ípsilon) volta para casa disposto a encarar o desafio de sobreviver ao ado. Tal qual Carolyna.
SERVIÇO:
Ípsilon
De Guylherme Almeida.
Com Juliana Plasmo.
De 14 a 25 de agosto no CCBB – Brasília.
Quartas, quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingo, às 18h.
Duração: 50 minutos.
Onde: Galeria 04 do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Setor de Clubes Especial Sul
Ingresso dos espetáculos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia para estudantes, professores,
profissionais da saúde, pessoa com deficiência – e acompanhante, quando indispensável para
locomoção, adultos maiores de 60 anos e clientes Ourocard), à venda no site
www.bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB Brasília
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.
Capacidade do teatro: 100 lugares