Pensado e executado por mulheres e para refletir sobre o feminino, o espetáculo Canção Para Invocar a Primavera faz curta temporada no teatro Paulo Gracindo, do Sesc Gama, a partir desta sexta-feira (13/9) até domingo (15/9). A entrada é gratuita.
A peça começou a ser gestada há 20 anos por Patrícia Marjorie e Lidiane Araújo, e busca provocar uma reflexão sobre o silenciamento feminino e a opressão das mulheres, levando em consideração, também, o gênero segmentado por raça, e mostrando que a chaga do apagamento feminino atinge ainda mais as negras. A ideia é refletir sobre a temática, mas com grandes pitadas de descontração, em meio a uma comédia teatral.
“Falar de temas difíceis como esses já é desafiador para nós, por isso procuramos dar uma moldura bem-humorada a essas questões espinhosas, que além do riso, serão acompanhadas por uma trilha sonora e uma canção feitas especialmente para a peça.”, afirmou a atriz e coautora da peça Lidiane Araújo.
Para Patrícia Marjorie, diretora e coautora no texto do espetáculo, falar sobre as angústias das personalidades femininas de uma forma descontraída pode ajudar a alcançar um público mais diverso. “Quando a gente aborda a opressão feminina, estamos colocando luz sobre algo muito sério na trajetória histórica; e, para atingir de forma ampla as mais variadas camadas da sociedade, a gente precisa adaptar a linguagem, e a comédia consegue alcançar essa diversidade e conversar com todas as pessoas”, defende diretora.
Canção Para Invocar a Primavera começou a ser desenvolvida no trabalho de diplomação em Artes Cênicas na UnB de Lidiane e Patrícia, onde as artistas já abordavam as temáticas da opressão e o silenciamento feminino. Assim, foi criada a primeira versão, escrita e atuada por elas. Esse texto foi revisitado pelas artistas há cerca de cinco anos, com o objetivo de criar sua versão em inglês, a ser dirigida por Patrícia em Nova York, onde a seis meses do ano a trabalho.
A versão brasileira acabou ficando pronta antes. Nela, além da questão das violências física, moral e intelectual contra as mulheres, o texto ganhou outras proporções. Antes interpretadas apenas por mulheres brancas, na nova versão nacional a cena é composta por uma mulher branca (Lidiane Araujo) e uma mulher negra (Stefany Mota), explicitando as múltiplas camadas de discriminação de gênero e raça.
“É muito importante a representação da mulher negra na peça, porque mostramos que as discriminações são diversas e que nós, mulheres negras, sofremos ainda mais porque, além do gênero, temos a raça que nos oprime. E quanto mais retinta, maior a violência sofrida”, afirmou a atriz Stefany Mota.
Sobre a Peça
“Canção para Invocar a Primavera” traz, em seu enredo Alma, uma terapeuta, mulher negra, que recebe, para uma sessão, Bárbara, uma atriz que está sendo convocada por personagens femininas que querem ter suas “verdadeiras” histórias interpretadas por ela.
São duas atrizes em cena, mas que dão vida a um universo de personagens femininas marcantes, como Maria Madalena e Maria Felipa de Oliveira, que reivindicam reconhecimento e respeito por suas trajetórias incríveis. Durante a peça, essas e outras mulheres, cansadas de terem suas histórias cortadas da narrativa oficial, reivindicam seu papel de protagonismo.
O espetáculo nasceu do desejo de dar voz às mulheres importantes que foram e seguem sendo silenciadas pela história. Tudo isso é feito sem perder o humor, a ironia, e acompanhado por uma trilha sonora com canção composta especialmente para a peça pela cantora, compositora e produtora musical Fernanda Cabral.
O trabalho é patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. O espetáculo estreou em agosto, no Sesc Ceilândia, e durante o mês de setembro vai rodar a cidade ando pelo Gama (Sesc), Taguatinga (apresentação interna para escola CEM CTN) e Plano Piloto (Espaço Cultural Renato Russo). Às sextas e sábados, a peça terá ibilidade, com audiodescrição às sextas e libras aos sábados.
“Canção Para Invocar a Primavera”
Teatro Sesc Paulo Gracindo (Gama)
Sexta (13/9) e sábado (14/9), às 20h; e domingo (15/9), às 19h. Entrada gratuita. Retirada de ingressos pelo Sympla.
Centro Cultural Renato Russo (Plano Piloto)
Dias 20 e 21 de setembro, às 20h; e 22 de setembro, às 19h. Entrada Gratuita. Classificação 14 anos.
