Estreia nesta quinta-feira (13), o longa “Vitória”, que retrata a incrível história de Joana Zeferino da Paz. Aos 80 anos, munida apenas de uma câmera e gravações caseiras, ela reuniu provas que levaram à prisão de mais de 30 pessoas, entre traficantes e policiais corruptos envolvidos no narcotráfico carioca.
Após as denúncias, Joana precisou se esconder e viver no anonimato, pois foi jurada de morte pelos criminosos que expôs. Conhecida nacional e internacionalmente como “Dona Vitória”, sua verdadeira identidade só foi revelada após sua morte, aos 97 anos, em 2023, dois meses depois do fim das gravações do longa.
O filme
Interpretada por Fernanda Montenegro, Joana acompanhou o início da produção e disse se sentir honrada por ser retratada pela atriz, segundo o cineasta Andrucha Waddington, diretor do filme. O jornalista Fábio Gusmão, responsável pela reportagem que divulgou as denúncias de Joana, é interpretado por Alan Rocha. O longa é uma produção do Globoplay.

As filmagens começaram em 2022 e seguiram protocolos rigorosos para preservar a segurança de Joana, que ainda estava sob proteção do Programa de Proteção a Testemunhas (PROVITA) em Salvador. Esse contexto explica por que uma mulher negra foi interpretada por uma atriz branca, algo que tem gerado polêmicas nas redes sociais.
O livro “Dona Vitória Joana da Paz”, escrito por Fábio Gusmão, foi publicado em 2016 e reeditado em 2024. A obra detalha a vida de Joana, sua luta contra a violência desde a infância e seu legado de coragem.
A história de Joana
Joana era massoterapeuta aposentada e morava a apenas 150 metros de um conhecido ponto de tráfico de drogas na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Em 2003, preocupada com a crescente violência e temendo por sua vida — já que tiros frequentemente atingiam seu apartamento —, ela decidiu agir.
Com uma câmera Panasonic parcelada em 12 vezes e fitas VHS, Joana filmou a movimentação criminosa de sua janela por dois anos. Anteriormente, ela já havia feito denúncias, mas suas reclamações eram ignoradas pelas autoridades, que alegavam manter patrulhamento frequente na região.

Em 2004, Fábio Gusmão, então jornalista da editoria policial do Jornal Extra, teve o às imagens e resolveu publicar uma reportagem especial sobre o caso. Ele e Joana se tornaram próximos, e a extensão da denúncia tomou proporções inesperadas. Apesar da insistência de Joana em exibir seu rosto na matéria, o jornal vetou a ideia para preservar sua segurança. Assim que a reportagem foi ao ar, ela desapareceu do mapa e ou a ser conhecida como “Dona Vitória”.
A história ganhou repercussão internacional, sendo destaque em jornais como El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina) e The Independent (Reino Unido). Em 2005, Joana recebeu o Prêmio PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) e foi homenageada com o Prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo, como personalidade do ano do Rio de Janeiro.
Vida após a denúncia
Mesmo inconformada por ter que viver escondida, Joana ou quase 18 anos no Programa de Proteção a Testemunhas. Durante esse período, morou no Mato Grosso, visitou um sobrinho na Itália e, por fim, se estabeleceu em Salvador, onde faleceu em 2023, vítima de um AVC.
Apesar da vida reclusa, manteve-se ativa e fez amizades. Entre elas, Paulo Bevilacqua, vizinho que acabou se tornando seu amigo e confidente, ajudando-a em consultas médicas e chegando a morar com ela após seu divórcio.
Agora, com o lançamento de Vitória, sua história ganha ainda mais visibilidade. Joana finalmente recebe o reconhecimento que sempre desejou e segue na memória de Fábio Gusmão, de seus amigos e de todos que a conheceram como uma mulher forte, determinada e corajosa.