Durante sua participação no Fórum Parlamentar dos BRICS, nesta terça-feira (3), a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) apresentou uma proposta para que 5% dos orçamentos militares dos países do bloco sejam redirecionados a uma agenda global focada em justiça climática e de gênero. A iniciativa foi apresentada na reunião intitulada “Fortalecendo Mulheres para Enfrentar a Crise Climática”.
O pedido formal foi encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos BRICS), Dilma Rousseff, com o objetivo de mobilizar investimentos estratégicos para ações climáticas que priorizem a proteção das mulheres, especialmente as do Sul Global.
“Se os países do BRICS redirecionarem apenas 5% dos seus gastos militares, poderemos mobilizar cerca de 34,7 bilhões de dólares por ano para proteger o planeta e garantir um futuro às nossas meninas”, destacou Célia Xakriabá. A parlamentar alertou para o contraste entre os bilhões investidos em armamentos e os impactos já provocados pela crise climática, como desastres naturais, migrações forçadas e fome. “É hora de escolher entre a guerra e a vida.”
Durante o fórum, a deputada enfatizou que mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas pelas mudanças climáticas. Citando dados da ONU, ela lembrou que até 2050 mais de 158 milhões de mulheres poderão ser empurradas para a pobreza por causa da crise ambiental. “Não se pode falar em transição ecológica justa sem pensar nas meninas indígenas, nas mulheres das periferias e nas comunidades tradicionais”, afirmou.
Célia também cobrou coerência do Congresso Nacional, que, segundo ela, declara defender a sustentabilidade, mas aprova projetos que enfraquecem o licenciamento ambiental e tentam suspender decretos de reconhecimento de terras indígenas. “Não é possível dizer que se está ao lado do meio ambiente votando contra os povos que protegem a biodiversidade. Precisamos de responsabilidade com o presente e compromisso com o futuro”, criticou.
A proposta da deputada dialoga com iniciativas internacionais, como a do governo do México no G20, que sugeriu destinar parte dos recursos militares ao reflorestamento. No caso dos BRICS, Célia ampliou o escopo para incluir políticas de combate ao racismo ambiental, incentivo à agroecologia e proteção dos territórios indígenas.
“A agenda climática precisa ser feminista, interseccional e baseada na justiça social. O Banco dos BRICS tem um papel estratégico para financiar essa transição”, reforçou a deputada mineira.
Ela espera que a proposta inspire também os parlamentos da China, Índia, Rússia e África do Sul a adotarem políticas semelhantes. Além disso, destacou que o Brasil, como sede da COP 30, tem uma oportunidade histórica para liderar um novo pacto global em defesa do planeta.