Menu
Opinião

Trump e as Big Techs 1

Opinião Opinião

23/01/2025 5h03

Atualizada 17/02/2025 15h06

combo us vote politics trump musk

Foto de Frederic J. BROWN e Brendan SMIALOWSKI / AFP

Quatro anos atrás, Donald Trump vivia seu inferno político. Derrotado por Joe Biden, lidava com as consequências de ter insuflado o ataque ao Capitólio. Foi banido do Twitter e do Facebook. E via no horizonte a ameaça da justiça — talvez até com risco de prisão. Sua reabilitação política, à primeira vista impensável, concretizou-se com a vitória eleitoral indiscutível e, agora, com a posse no mesmo Capitólio que, em 2021, fora vandalizado pela fúria de seus apoiadores.

Decerto, muito teremos a tratar, nas próximas semanas e meses, sobre os impactos globais do retorno de Trump à Casa Branca, bem como as implicações para o Brasil. Por ora, convém destacar um aspecto dessa trajetória singular que culminou na posse de 20 de janeiro.

Além das autoridades e lideranças de praxe — ex-presidentes, parlamentares e juízes da Suprema Corte, convidados estrangeiros e grandes doadores de campanha —, na liturgia da posse chamava atenção, pelo ineditismo e pela visibilidade, a presença dos maiores pesos-pesados do setor tecnológico, entre eles Elon Musk (Tesla e SpaceX), Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Meta), Sundar Pichai (Google), Tim Cook (Apple), Sam Altman (OpenAI) e Shou Zi Chew (TikTok). Chamou atenção, contudo, a ausência de nomes da Microsoft, como Bill Gates ou o CEO Satya Nadella, e do fundador da Nvidia, Jensen Huang.

Tudo bem que a digitalização se tornou avassaladora, que a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial são uma realidade onipresente. Mas esses gigantes não estavam ali apenas para cumprir formalidades. Foram parte decisiva da vitória eleitoral de Trump e, literalmente, chegaram de vez ao poder com a nova istração. Resta compreender o caminho que levou esses titãs da pós-indústria em profunda revolução a abraçar de modo tão explícito Donald Trump, a ponto de alguém como Elon Musk ser designado para liderar um processo que pode ser equiparado a uma verdadeira desmontagem da máquina pública tal como a conhecemos.

Naturalmente, sempre há uma defasagem entre o discurso e a prática, entre intenção e gesto. No entanto, o fato é que, a tirar pela profusão de medidas e iniciativas lançadas por Trump em suas primeiras horas na presidência – nenhuma das quais deixou de ser referida durante a campanha, vamos convir -, o peso e a influência desses grandes líderes das big techs podem gerar desdobramentos muito fora dos padrões usuais de políticas públicas.

Não se pode esquecer que praticamente toda essa elite do Vale do Silício era mais relacionada ao Partido Democrata, apoiando, no ado, figuras como Bill Clinton e Barak Obama. Um democrata emblemático como Al Gore, que desde seus tempos no Senado teve militância nos primórdios da Internet, era outra referência daquela duradoura proximidade. A pergunta que não quer calar, portanto, é o que teria provocado a guinada que ficou escancarada na posse de Trump? Este é assunto para o próximo artigo.

João Marcelo Chiabai da Fonseca, advogado, consultor e mestre em Políticas Públicas pela Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS) da Universidade Johns Hopkins

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado