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Futebol, paixão e capital

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06/12/2024 5h00

Atualizada 05/12/2024 9h52

pexels pixabay 50713

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O Botafogo conquistou o título inédito da Libertadores semana ada. O feito foi possível a partir de um alto investimento da empresa Eagle Football Holdings, que é a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Alvinegro. Em bom português, é a dona do clube, na figura do estadunidense John Textor.

A criação da SAF, em 2021, tem mudado a configuração do futebol brasileiro, permitindo aos clubes se organizarem a partir de gestões empresariais. Há casos de sucesso, como o Botafogo e Cruzeiro, e outros que não deram certo, como o Vasco, que pode ter como dono um magnata grego.

Tradicionalmente, os clubes surgiram e são geridos a partir de uma lógica comunitária, democrática, no sentido de haver conselheiros e eleições periódicas para os cargos de gestão.

Em geral, os dirigentes têm história e enraizamento com a localidade e o clube: frequentaram as arquibancadas e as sedes recreativas; se emocionaram com os jogos, ainda que o time não seja de proporção nacional; tiveram parentes que jogaram ou dirigiram as respectivas equipes; quando crianças, ganharam camisas dos times.

A SAF foi a saída encontrada para salvar clubes cujas gestões não estavam conseguindo investir ou sequer pagar as contas. O capital estrangeiro que tem chegado traz muito dinheiro e perspectiva de crescimento e títulos, que é o que realmente importa para o torcedor.

Mas, esse modelo quebra, em parte, essa questão da tradição, o vínculo comunitário. Os investidores compram os clubes pensando em lucros, não trazem a paixão e a afinidade orgânica com as quais estamos acostumados (não é uma crítica, necessariamente).

Assim como chegam, as SAFs podem sair. Vejamos, por exemplo, os antigos casos da Parmalat/Palmeiras e da ISL/Flamengo, nos anos 90.

O torcedor quer gritar gol, comemorar e sacanear os rivais. Já para o mercado, a paixão é uma oportunidade de monetizar afetos, criando valor para potencializar os lucros. 

Bruno Lara, jornalista

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