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Trump aceita avião de R$ 2,2 bilhões de presente do Qatar

Noves fora o questionamento ético, descartado por Trump com coisa de “idiotas”, há questões técnicas sérias envolvendo a transferência do Boeing 747-8I que estava a serviço da família real do emirado do golfo Pérsico havia 13 anos

Redação Jornal de Brasília

21/05/2025 17h03

trump

Foto: Chip Somodevilla/ AFP

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Em um evento inédito da história americana, o presidente Donald Trump aceitou um avião de luxo avaliado em US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões) do governo do Qatar para servir como o novo aparelho destinado a transportar os mandatários da principal potência mundial.

Noves fora o questionamento ético, descartado por Trump com coisa de “idiotas”, há questões técnicas sérias envolvendo a transferência do Boeing 747-8I que estava a serviço da família real do emirado do golfo Pérsico havia 13 anos.

“O secretário de Defesa aceitou um Boeing 747 do Qatar de acordo com todas as regras e regulamentos federais”, disse o principal porta-voz do Pentágono, Sean Parnell. “O Departamento de Defesa trabalhará para garantir que todas as medidas de segurança e exigências funcionais para missões sejam consideradas para uma aeronave usada para transportar o presidente.”

Aqui começam os problemas além do âmbito do conflito de interesse, dado que inicialmente a proposta qatari sugeria a transferência do aparelho para a Biblioteca Presidencial Donald J. Trump, o que supunha o uso privado do dito “palácio voador” pelo republicano após o mandato que acaba em 2029 -algo que ele negou.

“Qualquer aeronave civil exigirá modificações significativas para isso”, havia dito na véspera durante uma audiência no Senado Troy Meink, secretário da Força Aérea. Ele afirmou que o seu chefe, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, havia determinado que as contas fossem feitas.

Não será barato. Quando a Boeing foi comissionada por Trump em 2018, durante seu primeiro mandato, para entregar dois novos aviões para servir como Air Force One, a designação de qualquer aparelho que transporte o presidente que acabou associada aos 747 de 1990 ora em uso, as dificuldades ficaram claras.

A gigante americana não conseguiu cumprir o prazo de entrega até 2024, e prevê colocar os aviões à disposição da Casa Branca só em 2029. Eles serão versões altamente modificadas do mesmo 747-8I, que foi a última versão construído do icônico Jumbo, que saiu de linha em 2023.

A Boeing itiu ter perdido US$ 2 bilhões dos US$ 3,9 bilhões concedidos no contrato com o projeto. Não se trata apenas de um avião: cada Air Force One é um centro de comando em momentos de crise, tem sistemas de defesa contra mísseis e outras ameaças, e precisa ser capaz de resistir a pulsos eletromagnéticos e impacto de calor de explosões nucleares.

Nada disso se compra na esquina, e a chegada do presente do Qatar trará questionamentos acerca do grau de segurança que a aeronave terá.

Em favor da mudança de modelo atual, com 35 anos de uso, está seu custo de manutenção e operação, na casa dos R$ 1,2 milhão a hora-voo, sete vezes mais do que o de um 747-8 comercial em uso regular. Os aviões atuais, baseados nos modelos 747-200B, não têm praticamente peças de reposição na praça.

Além dessas questões técnicas, que dificilmente permitirão que Trump possa usar o avião no seu governo salvo uma degradação de seu nível de segurança, há implicações políticas e éticas.

Trump disse que não haverá óbices legais à aquisição, mas o comunicado desta quinta não entra em detalhes acerca do destino do avião. A oposição democrata no Congresso pediu uma abertura de investigação sobre o caso, sugerindo uma legislação para impedir que aeronaves vindas do exterior sirvam à Presidência.

Isso, claro, é política, mas não sem sentido. Se os EUA são capazes de rastrear eventuais escutas no aparelho, por outro lado, a questão da influência política auferida pelo emirado do golfo Pérsico fica em aberto.

Na semana ada, quando foi o primeiro presidente dos EUA a visitar o Qatar em 23 anos, Trump buscou minimizar isso. Na terça (20), o Qatar rejeitou formalmente qualquer suposição de conflito de interesses no seu gesto.

Seu premiê, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, afirmou que a doação era “uma coisa normal entre aliados”, apesar da inexistência de precedente histórico.

Na visita de Trump, o emirado anunciou US$ 243 bilhões em negócios com os EUA, inclusive com a compra potencial de 210 jatos da Boeing, a fabricante do Air Force One, o que ajudaria a empresa americana num momento em que a China promete vetar a compra de seus aviões no âmbito da guerra comercial com Washington.

Trump chegou a vistoriar o novo avião em fevereiro, quando segundo a imprensa americana os qataris gastaram US$ 1 milhão só para trazer a aeronave até a Flórida. O emirado vinha tentando emplacar a venda do aparelho, mas ele era visto como caro e opulento demais no mercado.

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