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Economia

Dólar abre estável nesta terça-feira com tensão comercial entre EUA e China e ata do Copom em foco

Trump conversou com os líderes canadense e mexicano dois dias depois de ordem de taxação e decidiu suspender as tarifas

Redação Jornal de Brasília

04/02/2025 10h17

Dólar

Foto: Reprodução/ Flickr

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar à vista rondava a estabilidade ante o real nas primeiras negociações desta terça-feira (4), à medida que os investidores avaliavam o conflito comercial entre Estados Unidos e China e a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central.

Às 9h04, a moeda americana caía 0,06%, a R$ 5,812.

A política tarifária do presidente Donald Trump foi oficializada no sábado (1º), quando ele assinou um decreto que aplicava taxas adicionais de todas as importações do Canadá, México e China.

Trump conversou com os líderes canadense e mexicano dois dias depois de ordem de taxação e decidiu suspender as tarifas por um mês após acordo para reforçar fronteiras com 20 mil agentes. Medida contra a China deve entrar em vigor.

Já o BC prevê estouro da inflação e reafirmou a intenção de elevar taxa básica de juros em um ponto percentual em março, a 14,25% ao ano, segundo ata do Copom divulgada nesta terça-feira.

O Canadá é de longe o maior fornecedor de petróleo dos EUA, respondendo por cerca de 60% das importações americanas de petróleo bruto. Um oficial da Casa Branca disse que tarifas mais baixas para energia canadense visam minimizar os “efeitos disruptivos” nos custos da gasolina e do aquecimento doméstico nos EUA, mas confirmou que não haveria mais exclusões.

Já os produtos chineses enfrentarão uma tarifa de 10%, além das tarifas já existentes dos EUA.

O governo afirmou que cada decreto contém uma cláusula anti-retaliação, de modo que, se algum país decidir revidar, medidas adicionais serão implementadas.

No próprio sábado, porém, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre 155 bilhões de dólar canadenses (US$ 106 bilhões) em produtos americanos. Os impostos sobre 30 bilhões entrarão em vigor na terça. O restante será efetivado em 21 dias.

Os impostos recairão sobre produtos como cerveja, vinho, uísque, frutas, sucos, roupas, equipamentos esportivos e eletrodomésticos. Trudeau também pediu aos canadenses que evitem comprar produtos americanos, dando preferência aos de produção local.

Ainda sem anunciar represálias como as do Canadá, a China informou que desafiará as tarifas por meio da OMC (Organização Mundial do Comércio).

“A imposição de tarifas pelos EUA viola seriamente as regras da OMC”, afirmou o Ministério do Comércio chinês em um comunicado, instando os EUA a “engajarem-se em um diálogo franco e fortalecerem a cooperação.”

Já em relação ao México, ambos os países chegaram a um acordo na véspera e a imposição de tarifas de 25% foi adiada em um mês.

O anúncio foi feito pela presidente mexicana Claudia Sheinbaum no X (ex-Twitter). “Tivemos uma boa conversa com o presidente Trump, com muito respeito à nossa relação e soberania”, escreveu ela.

Ela afirmou que o México irá reforçar a fronteira com os vizinhos norte-americanos com 10 mil militares da Guarda Nacional “para evitar o tráfico de drogas para os Estados Unidos, em especial de opioides fentanil”. Já os EUA se comprometeram a “trabalhar para evitar o tráfico de armas poderosas ao México”.

Em publicação em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump confirmou a suspensão das tarifas e afirmou que os soldados mexicanos serão especificamente designados para interromper o fluxo de fentanil e migrantes indocumentados para os EUA.

Segundo ele, durante o período de suspensão das tarifas, serão realizadas negociações com o país vizinho, lideradas pelo secretário de Estado Marco Rubio, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick.

“Estou ansioso para participar dessas negociações com a presidente Sheinbaum, enquanto tentamos alcançar um ‘acordo’ entre nossos dois países”, publicou Trump.

O anúncio fez o dólar perder força em diversas praças cambiais. No Brasil, fechou em queda de 0,34%, cotado a R$ 5,815, depois de ter disparado para a máxima de R$ 5,902 no início da tarde. No México, a divisa perdeu mais de 1% do valor, depois de ter engatado o dia com alta de 3%.

Já a Bolsa caiu 0,13%, aos 125.970 pontos.

“Com Trump é só emoção no mercado, tanto para cima quanto para baixo”, diz Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora. “E o dólar a R$ 6 ou próximo disso estava também muito inflado. Então é normal buscar uma taxa de equilíbrio”, acrescentou, em referência ao fato de a moeda norte-americana ter cedido em todas as últimas 11 sessões ante o real.

Para especialistas, as medidas de Trump podem colocar em curso uma “guerra comercial com esteroides”.
“Essas tarifas anunciam uma nova era de protecionismo comercial dos EUA que afetará todos os parceiros comerciais americanos, sejam rivais ou aliados, e interromperá significativamente o comércio internacional”, diz Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell.

A imposição de tributos mais altos pode afetar fluxos comerciais, aumentar custos e provocar retaliações.

Na economia doméstica dos EUA, ainda há o risco de um repique inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados -o que fortalece o dólar.

Neil Shearing, economista-chefe na Capital Economics, calcula que as tarifas podem empurrar a inflação para acima de 3%, em comparação com os 2,6% atuais. Impostos pesados sobre a UE e a China aumentariam os preços nos EUA ainda mais, alertou.

Para o economista André Perfeito, a guerra comercial de Trump “visa aumentar a arrecadação de tributos para tentar sanear o déficit gigante dos EUA”.

“O uso de tarifas só faz sentido se feito de maneira cirúrgica, em setores específicos e com bastante dinamismo. Elas encarecem os produtos importados, o que, em tese, favorece a produção local, mas a escolha lógica dos empresários é subir o preço para o novo preço de equilíbrio mais alto, tentando capturar esse excedente”, diz ele.

“Contudo, há aí uma grande oportunidade: o Brasil pode comer pelas beiradas e fornecer para Canadá, México e China mais mercadorias. Como se diz, crise é oportunidade e, nesse caso, é a oportunidade da década.”

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