A ponta da 204 Sul acaba de ganhar uma vistosa casa batizada de Pé de Galo. Fui conferir de perto a estreia do espaço na última semana e saí feliz com o que encontrei. Comandado pelo chef Angelo Di Franco, vindo de Goiânia, o restaurante aposta em revisitar e recriar comidas clássicas de bar, trazendo novas texturas e apresentações com toques das culinárias mineira e goiana.
Comecei a experiência me surpreendendo com o ceviche de panceta, que leva o nome da elaboração peruana apenas pela apresentação semelhante. Contudo, o conceito é outro: cubinhos de panceta à pururuca temperados com finas fatias de cebola roxa, pimenta-bode e limão-capeta, servidos sobre uma cama de creme de milho verde (R$ 36). O prato é farto, ideal para compartilhar, mas eu facilmente comeria um inteiro sozinho.
Pediram que eu adivinhasse o recheio do pastel que chegou à mesa. Chutei que era de carne de a, mas, na verdade, era de uma moela muito bem feita, com requeijão moreno, servido com vinagrete de couve cítrica. Tudo estava superequilibrado e a moela, bastante suave. A porção sai a R$ 32. O choripán, feito com pão francês, é recheado com linguiça cuiabana e molho de abacaxi com chimichurri; é um frescor para quem, como eu, viveu o boom dos trucks que vendiam um pão com linguiça qualquer cobrando R$ 20. O do Pé de Galo custa R$ 39 a porção e vale cada centavo.

Angelo se atentou em trazer algo diferenciado em todos os pratos e petiscos. Até o croquete, que é algo mais comum, ganhou destaque com recheio de cupim assado lentamente e defumado com lenha de maçã, acompanhado de leitonese de palmito pupunha (R$ 39 a porção). O mesmo ocorreu com o bolinho de arroz, que ganhou requeijão cremoso e açafrão, vinagrete de banana-da-terra com castanha de baru, quiabo assado e gratinado com queijo curado (R$ 29 a porção). Detalhe: o quiabo vem quase como um enfeite, mas poderia facilmente se tornar um snack de tão gostoso – e eu não sou fã de quiabo.
O cardápio é extenso e inclui versões exclusivas de cachorro-quente, pratos para compartilhar como Oswaldo Aranha, Moqueca e Joelho de Porco, além de receitas individuais para almoço e jantar. No entanto, após essa minha viagem pelos petiscos, essa parte do cardápio ficou para uma segunda visita, que não deve demorar a acontecer.
Para beber, a casa oferece uma boa carta de drinks, valorizando ingredientes brasileiros, mas meu coração ficou com o Spritz dos Alpes, feito com Prosecco, syrup de Elderflower, sumo de limão, água com gás e hortelã (R$ 31,99). Na boca, lembrou quase um clericot, porém menos doce e até mais refrescante. Uma pedida certeira para esse calor.

Com base na primeira impressão, o Pé de Galo parece ter entendido que a cidade tinha demanda para esse tipo de comida, mesmo após a explosão dos botecos desconstruídos. Além disso, percebeu que o público que ainda não estava sendo atendido, talvez apenas pelo Caju Limão mais recentemente, é a galera de 25 anos ou mais que ama uma botecagem de qualidade no preparo e que valoriza conforto: um ambiente charmoso, cadeiras confortáveis e atendimento afiado. Assim como seu irmão mais velho, o Caju, o Pé de Galo tem tudo isso na mão para conquistar essa parcela dos botequeiros e também ostentar filas de espera na ponta da comercial.
Pé de Galo
CLS 204, Bloco C, Lojas 34 e 36 – Asa Sul, Brasília; de segunda a quinta, das 11h30 à 0h. Sexta e sábado, das 11h30 à 1h. Domingo, das 11h às 23h. WhatsApp: (61) 99153 2260. Instagram: @pedegalobrasilia