Menu
Brasília

Salada de Letras: a banca itinerante que só vende autores de Brasília

O Salada de Letras está presente em quatro feiras por semana, na feira da 110 Norte, 206 Sul, 404 Norte e na feira do Noroeste, sempre das 5h ao meio-dia

Camila Coimbra

13/04/2025 18h27

img 7770

Foto: Camila Coimbra

Por Camila Coimbra

Em meio ao burburinho das feiras de Brasília, um vendedor chama atenção com seu bordão: “Salada de Letras, só autores de Brasília!”. Nathan Kacowicz, 65 anos, mineiro de nascimento e candango de coração, transformou uma mesa improvisada em um projeto de resistência literária. Desde 2021, sua banca itinerante percorre feiras da capital, atualmente a banca conta com mais de 400 títulos de 180 autores locais. 

De Belo Horizonte para o coração do cerrado

Nascido em Belo Horizonte, Nathan chegou a Brasília em 2010 para trabalhar como representante comercial de material odontológico. A mudança definitiva veio quando sua filha se mudou para estudar artes cênicas. “Ela voltou, mas eu fiquei. Me apaixonei por Brasília. Hoje me considero um brasiliense”*, diz.  

img 7798
Foto: Camila Coimbra

A virada para o mundo literário começou em 2019, quando publicou seu primeiro  livro de contos, “Branco”, com ajuda da Editora Outubro, fundada por Clara Arreguy, ex-colega de Belo Horizonte. A pandemia frustrou os planos iniciais, mas, em 2021, morando na 110 Norte, ele decidiu arriscar: desceu para a feira com uma mesa. A partir da iniciativa de montar a própria banca no meio da feira como uma forma de divulgar seu próprio livro, Nathan pensou além, invés de só expor o seu lançamento decidiu incluir outros autores de Brasília e assim iniciou seu projeto com 18 títulos e cinco autores.”Foi boca a boca. Autores começaram a chegar: ‘Você tem uma banca só de autores de Brasília?’”, lembra.  

Nathan explica que a Salada de Letras funciona no sistema de consignação e reúne desde poetas consagrados, como Nicolas Behr, até autores independentes, como Ana Paula Maia, Dada Escarrise e Iris Borges. “Não considero uma curadoria em si. Se é de Brasília, entra, se for ilustrador de Brasília, autor ou editora, faz parte. Mas leio tudo antes de vender”, afirma.  

Histórias Orgânicas

O nome surgiu de forma espontânea: “Pensei em algo fresco, misturado, como uma salada de frutas — mas com letras”. Já o subtítulo, “Histórias Orgânicas”, é um manifesto: “São livros feitos por pessoas reais, não por inteligência artificial. E a venda aqui também é orgânica: depende do olho no olho”.  

Enquanto o mercado editorial nacional enfrenta crises, Nathan explica que a maior parte das suas vendas vem de livros infantis: “Livros infantis são nossos campeões, 60% das vendas são deles; Muitos pais ainda incentivam os filhos a ler, e isso me emociona”. Entre os preferidos estão obras que usam Brasília como pano de fundo, aqui na banca tenho cerca de uns seis títulos infantis em que a cidade vira personagem.  

img 7789
Foto: Camila Coimbra

O Salada de Letras está presente em quatro feiras por semana, na feira da 110 Norte, 206 Sul, 404 Norte e na feira do Noroeste, sempre das 5h ao meio-dia. Ao ser questionado sobre levar sua banca ao eixão ou Parque da Cidade por conta do grande fluxo de pessoas, ele explica o porquê da escolha apenas pelas feiras. “Quem caminha não quer carregar livro. Feira é lugar de comprar”. O ambiente o cativou: “Os feirantes são parceiros. Um ajuda o outro, e o pregão é essencial”.  

Apesar das dificuldades em 2025, ele segue firme. “Livro não é presente de data comemorativa. É hábito”*, reforça. Para Nathan, mais do que vender livros, o importante é criar conexões. “Aqui tudo é boca a boca. Os autores chegam porque ouviram falar. Os leitores voltam porque se encantaram com uma história. É uma construção coletiva, uma salada mesmo, feita com o que Brasília tem de mais bonito: suas palavras.”

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado