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Histórias da Bola
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Mané cachaça

Garrincha ofereceu carona e pinga para juvenil do Vasco da Gama

Gustavo Mariani

20/04/2025 11h31

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O treino recreativo vascaínos terminara. Os jogadores foram para o chuveiro e banho e, em seguida, embarcaram no ônibus que os levou para a concentração no Hotel das Paineiras, a fim de descansarem para o prélio contra o Fluminense, no sábado, no Maracanã, pela Taça Guanabara.

O juvenil Ézio, que morava na Ilha do Governador, e geralmente descolava uma carona com Brito ou Oldair, naquele dia ficou sem e perguntou ao enfermeiro Jorginho se ele sabia de mais alguém que iria pra seus lados.

– O Mané Garrincha mora pa lá – respondeu o Jorginho e o garoto
Ézio descolou a carona com o velho astro que tentava se levantar. Embarcaram no imponente Impala do Garrincha e seguiram sem trocar uma palavra, pois o Ézio não tinha coragem de tentar um diálogo com uma lenda do futebol brasileiro.

Ao atravessar a ponte para a Ilha, o Mané Garrincha indagou:

– Topa beber um caju amigo?

Ézio respondeu sim, sem saber o que era o caju amigo.

No Jardim Guanabara, Garrincha conduziu o carro lentamente, margeando a praia. Viu uma vaga de estacionamento e freou, abruptamente. Ao invés de se posicionar à frente para fazer ar ré e balizar o carro, o Torto ficou calculando a possibilidade de colocá-lo de frente. Indeciso, provocou um imenso congestionamento.

Dois guardas de trânsito, alertados pelo buzinaço e xingamentos ao motorista do carrão que não se movia, abordaram o descuidado. Ao reconhecerem Garrincha, os guardas sinalizando para os carros que estavam atrás pararem. Depois, empurraram os veículos estacionados e o Mané pôde, então,. estacionar sem nenhuma dificuldade.

Problema resolvido, os guardas sacaram seus bloquinhos de multa e pediram autógrafos ao bicampeão mundial-1058/1962, que assinou Manuel dos Santos, seu verdadeiro nome. Depois, atravessou a rua com o Ézio, foi para um barzinho, convidou o garoto a sentar-se junto com ele perto do balcão e pediu dois caju amigo.
O dono do bar levou dois pratos, colocando em cada um colocou três pequenos cajus, sal e uma dose reforçada de pinga. Garrincha ou sal na fruta e desceu as branquinha pelo pescoço (por dentro, é claro). Ézio só olhou. Mané, então, perguntou:

– E aí garoto, não vai nessa, não?

– Pode ser uma cervejinha, seu Garrincha? – indagou o rapaz.
– Pode? – itiu, o Torto.

Mané Garrincha, então, trocou seu copo vazio pelo cheio do Ézio e repetiu a mesma jogada (pra dentro do pescoço). Próximo lance: pagou a conta e tocou seu carro direto para o prédio onde morava, no Dendê. Convidou o Ézio a subir com ele ao seu apartamento e surpreendeu Elza Soares (sua companheira) que estava com bobs (rolinhos) nos cabelos. Garrincha beijou-a, apresentou o visitante e contou ser um juvenil do Vasco da Gama, a quem dera carona. Elza o indagou:

– Vocêê não deu bebida pra ele, né?

Garrincha abraçou, beijou o garoto e desejou-lhe boa sorte na carreira. Ézio partiu feliz e faceiro, tendo que fazer uma longa caminhada até a sua distante casa.
Segundo o antigo goleiro vascaíno Valdir Appel, que me contou esta história, Garrincha só ficou sabendo do nome do juvenil quando jogou do lado do Ézio, em suas única partida pelo Vasco da Gama, amistosamente, contra a Seleção de Cordeiro-RJ – em 20 de julho de 1967.

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