18.08.1999 – Gama 0 x 0 Santos – Valia pelo Campeonato Brasileiro, no velho e demolido Estádio Mané Garrincha, e aquela foi a última da seis partidas já disputadas pelos gamenses contra os santistas. Mesmo sem ter vencido, a torcida gamense comemorou, gritando: “Um, dois, três, Santos é freguês!”. Exagero! Tudo porque, na partida anterior – 04.10.2000 -, no mesmo Mané, pela Copa João Havelange – o Brasileirão-2000 – o Periquitão havia mandado 2 x 1 pra cima do Peixe (apelido dos visitantes).
Se o confronto Gama x Santos tivesse começado durante a Copa do Brasil-2016, a torcida alviverede candanga até poderia invocar cartel positivo, pois o seu time registrara 0 x 0, em casa – 20.07.2016 –, repetira a contagem – 26.09.2002 – durante o Brasileiro e havia ficado pelo 1 x 1 – 08.08.2001 – também, do Brasileirão e no Mané, com todos estes jogos sendo mandados pelos candangos.
No entanto, o time paulista havia feito 3 x 0, no primeiro pega entre ambos – 27.07.2016 -, no jogo de ida pela Copa do Brasil, em território periquitense. Logo, o duelo anotava uma vitória para cada lado e quatro empates, o que significa que ninguém poderia curtir com a cara de ninguém. Só que, para o torcedor que esvazia várias latinhas de cerveja durante o jogo, o que vale é fazer festa. E (vamos para o parágrafo abaixo) conferir como rolou a festa:
Havia 5.002 pagantes no Mané Garrincha para prestigiar Gama 0 x 0 Santos. Se dependesse da bilheteria, a renda – R$ 48 mil, 254 reais – não daria para pagar as despesas da pugna, fato resolvido pelos patrocinadores da Confederação Brasileira de Futebol para o seu Brasileirão. Pra piorar: o Santos vinha de 0 x 2 Paraná; 0 x 0 Vitória-BA e 0 x 3 Atlético PR. Só ganhara uma: 3 x 2 São Paulo. De sua parte, o Periquitão havia levado 2 x 4 Corinthians; 0 x 2 Atlético-MG e 0 x 1 Guarani de Campinas-SP. Só vencera o Botafogo de Ribeirão Preto-SP, por 3 x 1, fora de casa – 11.08.1999.
Por ter o seu time se recuperado na rodada anterior, os principais comandantes do Gama, Wagner Maques e Agrício Braga, pediram à torcida alviverde para não xingar o treinador Jair Picerni, pois os mais exaltados não o perdoavam por causa dos oito gols levados em quatro compromissos, com três derrotas.
A dupla cartoleira não esperava renda que chegasse perto dos R$ 278 mil, 730 reais – pagos por 23.720 torcedores – do jogo contra os corintianos, pois o prélio contra os santistas seria em uma noite de quarta-feira, o que dificultaria a presença de moradores da cidade satélite do Gama, onde predominava a classe média baixa.
Eram 20h30, quando o árbitro Dacildo Mourão – primeiro cearense a integrar os quadros das FIFA – autorizou Gama e Santos a rolarem a pelota no gramado do Mané Garrincha. Do time santista, a torcida gamense só conhecia Zetti e Dodô (ambos ex-São Paulo). Dos demais, nem Paulo Rink, brasileiro naturalizado alemão e que jogara pela seleção daquele povo, sabia-se quem era. E, com aquele time de desconhecidos para o torcedor candango, o alvinegro praiano não incomodou o Periquitão, em nenhum momento do primeiro tempo.
Mas o Gama, também, não fez muita coisa, não. Durante o segundo tempo, os apupados treinadores – Emerson Leão (santista) e Jair Picerni (gamense) – fizeram duas substituições, cada um deles, mas nada mudou. A partida seguiu “desemocionante”, como a classificou um torcedor que já havia bebido várias latinhas de cerveja. E vaias cobriram o estádio.
O incrível foi que, após o apito final do árbitro cearense, a torcida do Gama começou a aplaudir o seu time e a gritar o que você já leu acima. Primeira vez na história do futebol brasileiro em que um time joga mal, não marca gol, é vaiado e aplaudido.
Gama do dia: Marcelo Cruz; Paulo Henrique, Gérson, Jairo e Rochinha; Deda, Caçapa (Gilberto), Lindomar e Alexandre Gaúcho; Romualdo (Mazinho Loyola) e Sorato. Santos: Zetti; Michel, Andrei, Valdir e Gustavo Nery; Elson, Claudiomiro, Marcelo Silva e Lúcio (Fernando Fumagalli; Dodô e Paulo Rink (Adiel).