A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está prestes a viver uma eleição que, até pouco tempo atrás, parecia mera formalidade. Marcado para o próximo dia 25, o pleito tinha tudo para consagrar Samir Xaud, presidente da Federação de Roraima, como novo mandatário da entidade — com apoio declarado de 22 das 27 federações estaduais. Mas um fato novo agitou os bastidores: a articulação de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, que conta com o respaldo de clubes.
Até o meio da tarde deste sábado (17), Reinaldo tinha o apoio 32 dos 40 times das Séries A e B. Os oito que não am a Nota de Apoio ao dirigente paulista foram: Grêmio, Palmeiras, Volta Redonda, Paysandu e Remo (bloco da Libra); e Botafogo, Vasco e Athletic (pela Liga Forte União).
A candidatura de Reinaldo surge como reação ao domínio das federações estaduais — muitas delas sem grande relevância esportiva — sobre o processo eleitoral da CBF. A ideia é simples e explosiva: unir os clubes da elite nacional em torno de um nome alternativo, capaz de romper com o modelo atual de gestão, visto como arcaico, centralizador e blindado à renovação.
A disputa é desigual e travada nos bastidores. Reinaldo trabalha agora nos bastidores para reunir s de pelo menos oito federações. Samir, por sua vez, já conta com o respaldo de federações, mas ainda não tem certeza se conseguirá as s necessárias dos clubes. O cenário, portanto, é de confronto direto: pressão de lado a lado, troca de promessas, telefonemas a todo instante, reuniões emergenciais e uma semana que promete ser intensa.
Há possibilidade de surgir um nome de consenso? Alguns já andaram falando sobre isto, mas o cenário que foi criado não parece apropriado para pacificação, e sim de guerra. De qualquer forma, houve conversas por uma terceira via, que poderia apontar na direção de Luciano Hocsman, do Rio Grande do Sul.
O que diz o Estatuto
Curiosamente, a regra que hoje dificulta a candidatura de Reinaldo foi instituída por ele próprio, anos atrás, quando ocupava cargo na diretoria da CBF. Para registrar uma chapa são necessárias s de 8 federações e 5 clubes das Séries A e B — um filtro que, à época, visava blindar o sistema contra outsiders, mas agora atua como armadilha contra o próprio idealizador.
Além disso, pairam sobre a candidatura de Samir Xaud suspeitas quanto à sua relação com a gestão anterior. Sua empresa médica manteve contrato com a CBF durante a presidência de Ednaldo Rodrigues — hoje afastado e tentando, via Supremo Tribunal Federal, barrar a eleição. Adversários como Gustavo Feijó questionam a legalidade da relação com base na Lei Pelé e no Estatuto do Torcedor.
Um trecho do manifesto das federações que apoiam Xaud resume bem o discurso do continuísmo: “Precisamos virar a página da judicialização e garantir estabilidade institucional à CBF”. Mas nos bastidores, o que se vê é uma disputa acirrada para manter o velho esquema no comando.
Neste momento, quando esta matéria estiver sendo lida, as negociações estarão fervendo. De um lado, clubes tentando conquistar apoios entre federações. Do outro, presidentes de federações tentando manter o bloco unido contra a ofensiva dos clubes. A guerra está declarada — e, ao que tudo indica, teremos sete dias intensos até a votação.
A sucessão de 2025, que parecia um capítulo repetido, ganhou contornos dramáticos. Pode até não mudar o final da história — mas o enredo, definitivamente, ficou mais interessante.