Luca Guadagnino não está para brincadeira depois de entregar o formidável “Me Chame pelo seu Nome” (2017), o remake de “Suspiria” (2018) e o peculiar “Até os Ossos” (2022), o cineasta italiano estreia o avassalador “Rivais”, protagonizado pelo trio Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist. O longa aborda o sadismo da obsessão dentro de um triângulo amoroso no meio da intensidade do Tênis.
Tash (Zendaya), uma tenista prodígio que se tornou treinadora, uma força da natureza que nunca pede desculpa pelo seu jogo dentro e fora do campo. Casada com Art (Mike Faist), ela conseguiu transformar a carreira do marido, saindo de um jogador medíocre para um campeão mundialmente famoso. Quando Art está tentando ultraar um momento difícil, onde apenas acumula derrotas, a estratégia de Tash toma um rumo inesperado: ela convence o marido a jogar em um torneio “Challenger” – o nível mais baixo do circuito profissional – onde terá de enfrentar Patrick (Josh O’Connor), o seu antigo melhor amigo e ex-namorado de Tashi. Patrick, que também já foi um talento promissor, agora se encontra esgotado e lentamente caminha para o fim de sua carreira. O encontro dos três pode ser capaz de reacender velhas rivalidades dentro e fora da quadra e resultar em um rumo diferente para a carreira de todos.

Um triângulo amoroso parece até um clichê do cinema, quantos filmes com o mesmo enredo já foram lançados só nos últimos anos, pois é! Mas não é o caso de “Rivais”. No início deste ano Celine Song entregou uma verdadeira obra prima com uma premissa parecida, inovando a temática em “Vidas adas” (2023). Agora seu companheiro Justin Kuritzkes, que assina o roteiro do novo longa de Guadagnino, se destaca pela versatilidade com uma faísca elétrica elevando o material da abordagem, por assim dizer, já obsoleta. Sua trama já pode ser considerada uma das melhores do ano e ainda estamos em abril. Não é nada triste, pelo contrário, é uma comédia dramática bem aproveitada em todos os segundos, ironicamente falando os espectadores vão suar durante a exibição.
Quando conhece os melhores amigos Patrick e Art, Tash diz uma frase que se torna o palco central para a narrativa. “Não sou uma destruidora de lares”. O roteiro de Kuritzkes faz uma intercalação sob o tempo, volta para o ado com camadas que são absorvidas pelo presente. No tênis profissional, os eventos mais desafiadores estão nas ligas menores, onde os talentos de segunda linha provam seu valor. Assim como o relacionamento conturbado dos três, eles sempre querem mostrar tudo de si para ela.

Guadagnino, que se tornou uma sensação com o novo clássico queer, “Me Chame pelo seu Nome” (2017), sabe como ninguém criar uma tensão homoerótica com um alto nível de elegância. O filme não é uma produção LGBTQIA+ em si, mas deixa as coisas ambíguas o suficiente para que alguém possa imaginá-lo como tal, assim como o recente “Close” (2022) de Lukas Dhont.
A frase dita acima por Tash já daria para entender que sim, existe uma certa atração velada entre os dois amigos. As primeiras cenas entre Art e Patrick são algumas das mais cativantes do filme, dois bobos correndo e se engalfinhando como gatos.

Ao longo de 131 minutos, “Rivais” alterna entre o que equivale a uma revanche romântica com as dolorosas partidas de tênis, aliás, todas as partidas são viscerais. O filme exige performances intensamente físicas dos dois atores masculinos, e nas cenas finais, ambos parecem exaustos.
Zendaya está tão fascinante que seria impossível pensar em outra atriz para o seu papel, a figura da Tash é grandiosa em todos os momentos, nada deixa a desejar, ela domina todos os cortes, principalmente os últimos. Ela não está na partida principal do final, obviamente, ela é uma treinadora e, no caso, um grande amor de ambos ou somente uma conquista como um troféu no final de uma partida. A atriz cria uma personagem tão humana e ao mesmo tempo tão distante, simplesmente fascinante.

Um dos pontos mais fortes de “Rivais” é a sua cronologia, que acaba sendo um dos grandes prazeres ao assistir ao longa por incluir todos os envolvidos – escritor, diretor e elenco.
Conclusão
“Rivais” está longe de ser um típico filme de esporte e ainda mais longe de ser um clichê de romance. Guadagnino está presente na sua intensidade, nos close-ups e nas escolhas musicais. O cineasta se arrisca mais uma vez e sai completamente vitorioso.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Luca Guadagnino;
Roteiro: Justin Kuritzkes;
Elenco: Zendaya , Josh O’Connor, Mike Faist;
Gênero: Drama;
Duração: 131 minutos;
Distribuição: Warner Bros. Pictures;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z