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Cinema com ela
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Herege: Hugh Grant faz doçura e manipulação uma combinação aterrorizante

O suspense psicológico ganha profundidade com a atuação imersiva de Chloe East e Sophie Thatche

Tamires Rodrigues

20/11/2024 5h00

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Foto: Divulgação/Diamond Films

“Herege” da queridinha A24 é uma incursão inesperada no terror psicológico, que desafia as expectativas do gênero. Hugh Grant, conhecido por seu charme bonachão, assume um papel completamente diferente ao interpretar o enigmático Sr. Reed, um personagem cuja gentileza dissimulada vai moldando uma tensão crescente. O longa, dirigido por Scott Beck e Bryan Woods, nos apresenta a um jogo psicológico perturbador, onde a manipulação religiosa e o isolamento se tornam armas de uma trama inquietante. 

Paxton e Barnes são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. No entanto, a tarefa se mostra difícil, pois o desinteresse da comunidade é evidente. Em uma de suas visitas, elas encontram o Sr. Reed, um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a acolhida amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em uma perigosa armadilha. Presas em uma casa isolada, Paxton e Barnes vêem-se forçadas a recorrer à fé e à coragem para escapar de um intenso jogo de gato e rato. 

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Foto: Divulgação/Diamond Films

O roteiro, de Scott Beck e Bryan Woods, conhecidos por seu trabalho em “Um Lugar Silencioso”, constrói um ambiente claustrofóbico em que o diálogo entre o Sr. Reed e as jovens irmãs Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) servem como um campo de batalha intelectual e psicológico. Reed, um homem aparentemente inofensivo com suéter e óculos, convida as missionárias para uma conversa sobre religião em sua casa isolada. 

A hospitalidade, no entanto, se transforma rapidamente em uma cilada, onde o discurso sobre fé se mistura à manipulação e ameaças veladas. A casa de Reed, com portas e janelas que bloqueiam qualquer comunicação com o mundo exterior, é quase um personagem por si só, uma prisão arquitetônica que simboliza a armadilha em que as missionárias caem sem perceber.

Na produção, o medo é construído de forma psicológica e atmosférica, sem recorrer a sustos fáceis ou cenas explícitas. A tensão cresce com a manipulação sutil de Sr. Reed, interpretado, que cria uma sensação constante de desconforto. O isolamento da casa e a influência religiosa adicionam uma camada de paranoia, o horror aqui não é apenas visível, mas também insinuado, deixando o espectador sempre na expectativa de que a verdade por trás dos acontecimentos seja ainda mais perturbadora.

Grant, em uma performance suave e ao mesmo tempo ameaçadora, usa sua habilidade de encantar e desarmar para transformar seu personagem em uma figura quase diabólica, manipulando não só as protagonistas, mas também o público. Sua suavidade só aumenta a ameaça de seu comportamento, fazendo com que as cenas com ele se tornem cada vez mais desconcertantes. A atuação de Grant é um dos maiores trunfos do filme, pois ele consegue inserir nuances de vulnerabilidade e sarcasmo, enquanto seu personagem revela gradualmente sua verdadeira natureza.

Chloe East e Sophie Thatcher entregam performances marcantes na produção. East, como Irmã Paxton, transita com habilidade entre a ingenuidade e a crescente assertividade, refletindo a evolução de sua personagem diante da manipulação do Sr. Reed. Thatcher, por sua vez, dá vida a Irmã Barnes com uma mistura de ceticismo e vulnerabilidade, equilibrando a tensão da situação com momentos de resistência emocional. Juntas, as atrizes criam uma dinâmica que intensifica o suspense e o jogo psicológico da trama, tornando o confronto com Reed ainda mais impactante.

Enquanto o filme explora a dúvida religiosa e o ceticismo, Beck e Woods jogam com as expectativas do público, usando referências culturais e discussões filosóficas para gerar desconforto. A natureza dos diálogos, com Reed atacando as bases da fé das missionárias, serve para questionar a verdadeira natureza da crença e da manipulação religiosa. No entanto, a trama também permite momentos de exagero, especialmente quando as manipulações de Reed começam a parecer mais como truques típicos do terror psicológico do que uma crítica profunda à religião. O jogo mental é interessante, mas a crescente sensação de artificialidade pode desviar um pouco da mensagem original.

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Foto: Divulgação/Diamond Films

Conclusão

“Herege” não é um longa de terror comum. Ele mistura questões de fé, controle e manipulação em um cenário claustrofóbico onde as ideologias são as verdadeiras armas. Hugh Grant, com sua habilidade de se reinventar, torna o filme um estudo fascinante de como a suavidade pode se tornar a forma mais insidiosa de maldade. Embora o enredo penda para o absurdo em alguns momentos, ele ainda mantém o público intrigado, fazendo com que, ao final, até a simples ideia de uma torta de mirtilo pareça ameaçadora.

Confira o trailer: 

Ficha Técnica
Direção:
Scott Beck, Bryan Woods;
Roteiro: Scott Beck, Bryan Woods;
Elenco: Hugh Grant, Sophie Thatcher, Chloe East, Topher Grace, Elle Young;
Gênero: Terror;
Duração: 111 minutos;
Distribuição: Diamond Films;
Classificação indicativa: 16 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z e Sinny Assessoria

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