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Cinema com ela
Cinema com ela

Emilia Pérez: um musical ambicioso que se perde na estética e na narrativa

Longa estreia oficialmente em 6 de fevereiro, mas a partir desta quinta-feira (30) já está disponível em alguns cinemas nacionais

Tamires Rodrigues

30/01/2025 8h00

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Foto: Divulgação/Paris Filmes

Jacques Audiard sempre demonstrou interesse por personagens que se reinventam, mas em “Emilia Pérez”, o diretor francês transforma essa obsessão em um musical que, apesar de ousado, tropeça na falta de autenticidade e na dificuldade de conciliar estilo e conteúdo. O longa tenta abordar questões sociais profundas, mas se perde na superficialidade de sua execução e na escolha de não gravar no México, o que prejudica sua credibilidade.

A trama acompanha Manitas del Monte, um traficante cruel que se transforma em Emilia Pérez, buscando uma nova identidade e redenção. Embora o arco de mudança seja um elemento recorrente no cinema de Audiard, aqui ele se desenrola de forma apressada e sem a densidade necessária para tornar essa transição verossímil. A tentativa de mesclar drama criminal e musical resulta em um espetáculo visualmente carregado, mas desajeitado em termos narrativos.

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Foto: Divulgação/Paris Filmes

Um dos maiores problemas do filme é sua ambientação artificial. Apesar de se tratar de uma história profundamente enraizada na violência do narcotráfico mexicano, Audiard opta por filmar em estúdios e locais que não refletem a realidade do país. A decisão de não gravar no México torna a ambientação genérica e pouco convincente, comprometendo a imersão e a autenticidade da história. Além disso, o roteiro falha em compreender a complexidade social e política do narcotráfico, tratando o tema com um exotismo que beira o irresponsável.

A parte musical também não convence. As coreografias são genéricas e a trilha sonora não apresenta canções memoráveis, deixando o espectador com a sensação de estar diante de um experimento mal executado. Audiard tenta compensar essa falta de impacto com uma montagem acelerada e números grandiosos, mas a falta de fluidez na direção das cenas musicais torna a experiência cansativa.

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Outro ponto problemático é a construção dos personagens. Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón e Selena Gómez fazem o possível para dar vida ao roteiro, mas são prejudicadas por diálogos artificiais e atuações inconsistentes. Os sotaques oscilantes e a falta de coerência nas performances evidenciam a direção descuidada e a dificuldade de criar um universo crível.

A crítica social proposta pelo longa se dilui diante de sua abordagem estereotipada. A tentativa de explorar a jornada de redenção de Emilia Pérez acaba recaindo em clichês e soluções fáceis, transformando um tema complexo em um conto simplificado de recomeço. O resultado é uma trama que tenta ser inovadora, mas se perde entre suas ambições e a execução desajeitada.

Conclusão

No fim, “Emilia Pérez” é um projeto que tinha potencial, mas falha em diversos aspectos. A direção pouco inspirada, a decisão equivocada de não filmar no México, a falta de autenticidade na representação cultural e os problemas narrativos fazem com que o filme se torne mais um exemplo de um diretor tentando sair de sua zona de conforto sem compreender verdadeiramente o universo que deseja retratar.

Confira o trailer: 

Ficha Técnica
Direção: Jacques Audiard;
Roteiro: Jacques Audiard;
Elenco: Zoë Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez;
Gênero: Drama, Musical;
Duração: 130 minutos;
Distribuição: Paris Filmes;
Classificação indicativa: 16 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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