Desde sempre, Hollywood faz adaptações literárias. Algumas, muito ruins; outras, excelentes, como por exemplo “Adoráveis Mulheres” (2019) e “Eu, Você e a Garota que Vai Morrer” (2015). Na mesma linha, chega aos cinemas nesta quinta (1º) “Um Lugar Bem Longe Daqui”, adaptação do livro de mesmo nome. A produção é de Reese Witherspoon, conhecida de longa data, mas que talvez tenha feito uma escolha que combinaria mais com um seriado para TV e para o streaming do que com uma produção cinematográfica.
O longa baseado no romance de Delia Owens acompanha a vida da jovem Kya Clark (Daisy Edgar-Jones), seguindo duas linhas temporais. A primeira sobre sua vida isolada, depois de ter sido abandonada por todos de sua família ainda criança, precisando lidar com inúmeros problemas. E a segunda é sobre uma investigação de um assassinato de um rapaz local na cidade fictícia de Barkley Cove, sendo que Kya é a principal suspeita do crime.

Roteiro
Lucy Alibar, conhecida por “Indomável Sonhadora” (2012), conseguiu dissolver um série de momentos mais angustiantes para o longa, sem se importar muito se o público já conhecia a história ou não — vale considerar que é uma adaptação de um fenômeno literário com mais de 2 milhões de cópias vendidas. Mas o roteiro é extremamente picotado, e as cenas não entregam profundidade necessária para os temas abordados.
A narrativa é muito grande (violência doméstica, alcoolismo, abuso de mulheres e crianças, racismo e fome), mas pouco explorada. Baseia-se na solidão de uma menina forçada ao ostracismo social, o que pode até levar o público às lágrimas, mas não a disso. Alibar, junto com a diretora Olívia Newman, entregam um filme superficial.
Protagonista
Daisy Edgar-Jones, que brilhou na minissérie “Normal People” (2020), talvez seja a melhor coisa de “Um Lugar Bem Longe Daqui”. A atriz compõe uma personagem bastante peculiar, que lembra várias heroínas da literatura. Ganha destaque a sua força inabalável para não desistir de se tornar uma artista, mesmo sem estudos e apoio familiar. Consegue entregar a mesma intensidade em momentos ruins, como no abandono da família e nos relacionamentos tóxicos, e também nos momentos bons, como quando começa a pintar e a ler, ou quando recebe o primeiro cheque. Daisy foi uma ótima escolha.

Linha do tempo
O filme segue duas linhas de sua narrativa. A primeira se inicia em 1969, com o assassinato de um jovem local, cujo corpo foi descoberto por dois meninos no pântano. O xerife, sem encontrar nenhuma prova como impressões digitais, pegadas ou algum objeto que provaria o assassinato, acaba por tornar Kya a única suspeita do caso, pois dias antes, alguém teria visto os dois brigando na praia.
Já a segunda linha mostra quem seria essa “assassina”, contada para o seu advogado de defesa justamente por Catherine Danielle Clark, conhecida por Kya, que precisa convencer o júri que é inocente. Esse trecho começa nos anos 1950, e essa parte faz mais sentido para o longa.
Conclusão
O filme “Um Lugar Bem Longe Daqui” é um filme muito bonito. Sua fotografia vai encantar a todos. Daisy Edgar-Jones entrega uma ótima protagonista, com vários momentos angustiantes, mas cenas lindas e delicadas. Contudo, infelizmente o longa apresenta grandes problemas no roteiro. São muitos pontos para mostrar a vida da Kya, mas nenhum deles foi aprofundado da forma necessária.
Confira o trailer:
Ficha técnica:
Direção: Olivia Newman;
Roteiro: Lucy Alibar;
Produção: Reese Witherspoon e Lauren Neustadter;
??Elenco: Daisy Edgar-Jones, Taylor John Smith, Harris Dickinson, Michael Hyatt, Sterling Macer Jr. e David Strathairn;
Gênero: Drama;
Distribuição: Sony Pictures Releasing;
Duração: 02 horas;
Classificação Indicativa: 14 anos;
Assistiu à pré-estreia a convite da Espaço/Z