Já me posicionei nesta coluna a respeito de psicólogos utilizando a rede social para dancinhas e/ou exposições minimamente constrangedoras, daquelas que trazem a tona à vergonha alheia em segundos.
Porém, ultimamente tenho observado o surgimento, ou melhor, tenho constatado o quanto as redes sociais estão infladas de apresentadores psicólogos. E quando falo em apresentadores estou falando de grandes nomes da mídia como Faustão, Silvio Santos, e o já falecido Gugu.
Seriam apresentadores psicólogos ou psicólogos apresentadores? São psicólogos das mais diversas vertentes que encontraram nesses locais o caminho para o sucesso. Caso contrário, provavelmente ariam despercebidos no dia a dia da psicologia se não soubesse explorar com tanta maestria o potencial das redes sociais.
Confesso que o simples fato de um profissional descobrir um novo nicho de mercado em nada me incomoda, muito pelo contrário, me alegra ao ver o espírito empreendedor adentrar ao reino da psicologia.
Ocorre que, infelizmente, e a exemplo de outros reinos, o da psicologia é composto de diversos cidadãos sedentos de conhecimento sem nenhum conhecimento cientifico que minimamente sirva de filtro as aberrações da internet, o que, de acordo com Jasmine Fardouly, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade Macquarie em Sydney, é um perigo, pois as pessoas estão comparando suas aparências e conhecimento as das pessoas nas imagens do Instagram, ou em qualquer plataforma em que elas estejam, e muitas vezes acabam se julgando inferiores.
Segundo o escritor e filólogo italiano Umberto Eco “as redes sociais deram o direito à palavra a uma ‘legião de imbecis’ que antes falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”.
Assim, segundo escritor, ‘idiotas’ têm o mesmo espaço de Prêmios Nobel., o que é um perigo, não só ao conhecimento cientifico, mas em especial a liberdade de pensamento e a própria liberdade.
Cegos pela fama, muitos influenciadores digitais se tornaram figuras respeitadas como especialistas ou mesmo doutores, sem sequer terem frequentado um banco de faculdade.
Existem aqueles também que possuem diplomas e souberam utilizar-se dos mais diversos canais midiáticos para concretizar sua divindade junto ao seu público.
E na psicologia isso tem se tornado uma prática comum, recentemente uma psicóloga, dessas midiáticas, que inclusive irava seu trabalho, postou: “Hoje foi a prova para entrar na minha lista de profissionais”. Ter um mínimo de acertos na prova é um dos requisitos. A seleção é difícil. Eu só recomendaria profissionais que eu posso atestar algum grau de qualidade. Por isso a régua será cada vez mais alta…Parabéns aos aprovados. Estou muito feliz por vocês. Iniciamos um novo momento da psicologia no Brasil. Uma psicologia valorizada e reconhecida”.
Como se não bastasse a arrogância explicita e altamente desconexa com a realidade, em especial por acreditar que “prova” avalia conhecimento, ainda temos a triste e lamentável coincidência com o ado aterrorizador de uma ideologia racial, na citada fala categorizada como ideologia com base em um conhecimento imaginado pela pessoa referencia.
Gosto de lembrar que uma das descrições de ideologia é: raça dominante, sob raça dominada por meio do conhecimento.
Como pode uma psicóloga se colocar a frente do Ministério da Educação, da Conselho Federal de Psicologia e demais entidades da categoria, “selecionando” psicólogos com base em seus próprios pressupostos do saber psicológico? E ainda afirmar que um novo marco na psicologia brasileira foi iniciada.
Questionamentos a parte, eu concordando ou não com a postagem, cabe ao Conselho Regional analisar a fala da citada psicóloga e interpretar se ouve ou não transgressão do código de ética.
A minha pessoa além do assombro e indignação com o que foi postado, ainda me resta a dúvida:
Será que ao encontrar a psicóloga em questão devo ignorar, cumprimentar, pedir uma foto, pedir um autógrafo, ou me ajoelhar em referência?
Até a próxima…
*Demerval Guilarducci Bruzzi – CRP 01/21380