A depressão é uma condição de saúde mental que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e no século XXI, a sua prevalência e complexidade continuam a crescer. É muito mais do que simplesmente sentir-se triste ou desanimado; é uma doença debilitante que pode afetar a qualidade de vida de quem a enfrenta.
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a depressão é um transtorno mental frequente. Em todo o mundo, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram desta condição. A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma importante para a carga global de doenças.
Ainda segundo a Opas, a depressão é um transtorno comum, mas sério, que interfere na capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e aproveitar a vida. É causada por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos.
Algumas pesquisas genéticas indicam que o risco de depressão resulta da influência de vários genes que atuam em conjunto com fatores ambientais ou outros.
Alguns tipos de depressão tendem a ocorrer em famílias, mas também pode acometer pessoas sem histórico familiar. Nem todas as pessoas com depressão apresentam os mesmos sintomas. A gravidade, frequência e duração variam de acordo com cada indivíduo e sua condição específica.
Portanto, existem tipos diferentes de depressão?
Vou me ater às definições da própria Opas para evitar qualquer informação indevida, dada a gravidade e delicadeza do tema.
Um episódio depressivo pode ser categorizado como leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Um indivíduo com um episódio leve terá alguma dificuldade em continuar um trabalho simples e atividades sociais, mas sem grande prejuízo ao funcionamento global. Já durante um episódio depressivo grave, é improvável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou domésticas.
Uma distinção fundamental também é feita entre depressão em pessoas que têm ou não um histórico de episódios de mania. Ambos os tipos podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo) e com recaídas, especialmente se não forem tratados.
É de suma importância que não só as pessoas, mas em especial as autoridades competentes compreendam que, apesar dos avanços na conscientização sobre saúde mental, o estigma em torno da depressão ainda persiste. Muitas pessoas hesitam em procurar ajuda devido ao medo do julgamento ou à falta de compreensão da doença, o que pode trazer muito mais prejuízo à sociedade.
A depressão está se tornando cada vez mais prevalente no nosso mundo. Fatores como estresse crônico, isolamento social, pressões econômicas e tecnologia digital, por exemplo, contribuem para o aumento da incidência da doença. Outro agente que potencializou os casos de depressão foi a pandemia de Covid-19, em especial, devido à incerteza e o medo.
O que a sociedade (em especial, a empresarial) não se atentou, é que a saúde mental é um estado de bem-estar mental que permite ao ser humano lidar com o stress da vida, realizar suas capacidades, aprender e trabalhar bem e contribuir para a manutenção da sua comunidade. É uma componente integral da saúde e do bem-estar que sustenta as nossas capacidades individuais e colectivas para tomar decisões, construir relações e moldar o mundo em que vivemos. Saúde mental é um direito humano básico e crucial para o desenvolvimento pessoal, comunitário e socioeconômico.
Entretanto, o que vemos é exatamente o contrário do que poderia se esperar. Mesmo com todo destaque que a pandemia deu aos processos emergentes da depressão, com drásticas quedas na produtividade e competitividade das empresas, o o ao tratamento piorou.
É imprescindível que as partes competentes entendam de uma vez por todas que a saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais. Existe num continuum complexo, experienciado de forma diferente de uma pessoa para outra, com vários graus de dificuldade e angústia e resultados sociais e clínicos potencialmente muito diferentes.
Sabemos hoje que, ao longo das nossas vidas, múltiplos determinantes individuais, sociais e estruturais podem combinar-se para proteger ou minar a nossa saúde mental. Fatores psicológicos e biológicos individuais, como competências emocionais, consumo de substâncias e genética, podem tornar as pessoas mais vulneráveis a problemas relacionados à depressão. Da mesma forma que pessoas com diminuídos traços de depressão na dinâmica de sua personalidade são menos propensas a ter processos depressivos emergentes do que indivíduos com aumentados traços. Então, qual motivo de não atuarmos preventivamente no campo da saúde do trabalho?
Empresas com um grande plano de saúde já fazem seu dever de casa. Um projeto que desenvolvi com a empresa Cassi prevê, já no exame issional, a avaliação da dinâmica da personalidade e potencial cognitivo de seus funcionários, evitando, assim, milhões de reais desperdiçados, ao mesmo tempo em que milhares de tratamentos e intervenções são antecipados, permitindo ao funcionário uma melhor qualidade de vida. Afinal, intervenções de promoção e prevenção funcionam através da identificação dos determinantes individuais, sociais e estruturais da saúde mental.
Uma vez detectados, a empresa intervêm para reduzir os riscos, criar resiliência e estabelecer ambientes de apoio à saúde mental. As intervenções podem ser concebidas para indivíduos, ou mesmo grupos específicos, de acordo com o resultado das avaliações psicológicas realizadas.
Mesmo ciente de ser um projeto pioneiro no Brasil, tenho total consciência de que a reformulação dos determinantes da saúde mental exige, muitas vezes, medidas que vão além do setor da saúde e, por isso, os programas de promoção e prevenção devem envolver esferas da educação, trabalho, justiça, transportes, meio ambiente, habitação e bem-estar.
O setor da saúde pode contribuir significativamente ao incorporar esforços de promoção e prevenção nos serviços de saúde; e defendendo, iniciando e, quando apropriado, facilitando a colaboração e coordenação multissetorial. Entretanto, é fundamental que o Governo, a exemplo deste grande plano de saúde, utilize-se de tal prática, com alicerce estrutural para criação e expansão de projetos semelhantes, iniciando já na escola pública a busca pelo bem-estar de sua comunidade.
A depressão na atualidade apresenta desafios significativos, mas também abre caminho para inovações e abordagens mais eficazes no tratamento e gestão da doença, como no exemplo abordado.
É essencial que a sociedade, grandes empresas e escolas comecem a investir em avaliação, conscientização e o a cuidados de saúde mental, para garantir que aqueles que sofrem de depressão possam receber o apoio de que precisam. A depressão é uma batalha complexa, mas que, com as ferramentas e a compreensão adequadas, pode ser vencida.
Até a próxima…