Uma infância interrompida pelo luto
Nascida na Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, mas criada em Marília, interior do Estado, Vânia Euzébio enfrentou um dos maiores traumas de sua vida aos seis anos: presenciar a morte da irmã mais velha, de apenas 11. O impacto do luto não tratado, somado a um diagnóstico tardio de TDAH e dislexia, marcou profundamente sua infância e escolarização, gerando dificuldades de aprendizagem, baixa autoestima e uma relação conturbada com o ambiente escolar.
Rebeldia, maternidade e um pedido ao Papai do Céu
Na adolescência, Vânia seguiu o caminho da rebeldia, como resposta ao trauma. Foi mãe solo aos 19 anos e criou sua filha, Duda, por quatro anos sozinha, até conhecer seu atual marido. Um encontro virtual pelo MSN que mudou tudo: ele ouviu sua história, acolheu sua dor e decidiu assumir a filha como sua. “Papai do céu, me traz um pai que nunca vá embora”, disse Duda numa véspera de Natal — e, poucos dias depois, o pedido se realizou.

Após perder a memória por completo, Vânia reencontrou sua identidade ouvindo histórias de pessoas que ela mesma ajudou.
Da depressão ao renascimento
A maternidade trouxe alegria, mas também escancarou feridas antigas. Vânia enfrentou uma profunda depressão pós-parto após o nascimento da segunda filha. Incapaz de realizar tarefas básicas, chegou a manifestar pensamentos suicidas. O ponto de virada veio com o curso Mulher Única, uma imersão terapêutica de 12 semanas que reacendeu nela o desejo de viver. O curso, que hoje ela lidera há oito anos, transformou sua dor em missão.
Duda, o diagnóstico e o orgulho de ver a filha florescer
Duda, sua filha mais velha, foi o ponto de partida para muitas descobertas. As crises de ansiedade na adolescência, na verdade, eram crises de shutdown, típicas do autismo — um diagnóstico que veio mais tarde, junto ao de TDAH. “Ela se reclusava, se fechava completamente. A gente não sabia o que era”, lembra Vânia. Hoje, com laudo de autismo nível 1 de e um tratamento assertivo, e autoconhecimento, Duda leva uma vida independente, cursa Psicologia, está no segundo semestre da faculdade e já participou de missões voluntárias na Tailândia e no Camboja. “Ela se entende, se conhece e se respeita. E leva uma vida totalmente normal”, conta a mãe, emocionada.
Da confeitaria à clínica
Antes de se tornar psicanalista, Vânia era confeiteira reconhecida em sua cidade, com um negócio de bolos personalizados. Mas foi na luta por compreender as crises da filha que ela encontrou sua verdadeira vocação — cuidar de pessoas. Começou a estudar, desenvolveu exercícios próprios e viu nascer um novo propósito de vida. Largou a confeitaria e iniciou a formação em psicanálise.
Uma enfermidade, a perda da memória e um milagre pessoal
A virada mais inesperada aconteceu quando Vânia foi diagnosticada com nódulos no útero. Na luta por uma cirurgia, teve sua saúde abalada ao ponto de perder a memória após tomar um coagulante. Quatro apagões levaram-na a esquecer completamente sua vida. Foi com a ajuda da família, da fé e de mensagens de pessoas que ela havia ajudado ao longo dos anos que Vânia se reconectou com quem era. E num dia comum, a memória simplesmente voltou — junto com a esperança.
Um sonho, um aporte e Londres
Durante a amnésia, Vânia teve um sonho: uma ponte quebrada, folhas de primavera e um chamado para atravessar. Um tempo depois, já formada, recebeu um convite para palestrar em Londres — cenário idêntico ao do sonho. A partir dessa viagem, sua carreira explodiu. Com um método próprio de atendimento, ou a atender pacientes nos EUA, Europa e Brasil, sempre com foco em reprogramação cerebral para casos de ansiedade e depressão.

Vânia ao lado de suas filhas, Eduarda e Rafaella
Método de acolhimento e resultados rápidos
Vânia Euzébio, 38 anos, paulista, cristã, casada e mãe da Eduarda e da Rafaella, é psicanalista clínica e terapeuta comportamental. Seu público majoritário é formado por mulheres — em sua maioria, também cristãs. “Mas eu respeito e atendo pessoas de todas as religiões e de todas as classes sociais também. Aqui, a religião do paciente é respeitada. Apesar da maior procura ser de pessoas cristãs, meu acolhimento é para todos”, afirma.
Foi ouvindo essas mulheres que nasceu também uma mentoria exclusiva para elas. “Alinhamos corpo, alma e espírito. Trabalhamos autoestima, desbloqueamos áreas específicas da vida que estão travadas e ajudamos cada mulher a avançar”. No programa, cada participante tem um treino personalizado com uma personal trainer, uma sessão com a consultora de imagem para repaginar seu estilo e também uma aula de finanças com a Vanessa Dal Bosco que ensina sobre investimentos e organização financeira. “É um programa que prepara a mulher para o próximo nível”.
Além disso, Vânia está em um processo de desenvolvimento de um livro e possui no momento um projeto especial voltado para mães atípicas — aquelas que têm filhos com deficiência ou necessidades específicas. “É um lugar de cuidado e acolhimento com essas mães, de forma gratuita. Um espaço seguro, onde elas podem compartilhar, se fortalecer e receber apoio emocional”.
Com agenda lotada, Vânia aposta num modelo de acompanhamento próximo aos pacientes, oferecendo e contínuo entre as sessões. Segundo ela, em média, crises de ansiedade cessam nas três primeiras semanas e quadros depressivos, sem transtornos associados, melhoram em cerca de 30 dias. A próxima etapa do tratamento é a reprogramação cerebral, que pode durar de 3 a 6 meses. Seu trabalho, fundamentado em vivências reais e ciência, devolve autonomia emocional a quem perdeu o rumo.
“Cada pessoa que chega até mim é única. Eu procuro entender as dificuldades, as dores, o temperamento, a personalidade, a linguagem do amor — a forma como essa pessoa se sente amada. E cuido dela nessa linguagem, de um jeito que a faça se sentir especial”, conta. “O modo como eu trabalho, sendo ível aos meus pacientes, é tão assertivo que se tornou um dos principais pontos que fazem com que melhorem em tão pouco tempo. Quando a crise chega, eles me ligam. E eu vou ter um contato com eles. Se for necessário, faço uma ligação até que estejam calmos e conscientes novamente. E entendemos o porquê da crise, qual foi o gatilho, e vai cortando essas raízes até que o paciente esteja 100%. Esse tratamento de continuidade faz toda a diferença. Aqui, toda dor importa — e toda dor é acolhida.”
“Meu trabalho hoje é o meu propósito de vida. Eu descobri que a minha dor foi transformada em missão”, afirma. “Tudo o que eu vivi — a depressão, as crises da minha filha — me conduziu até aqui.” Duda, hoje com diagnóstico de autismo nível 1 e TDAH, está cursando Psicologia, já participou de missões na Tailândia e no Camboja, e vive com autonomia e autoconhecimento. “Ela se entende, se conhece, se respeita. E leva uma vida totalmente normal.”
“Hoje gera em mim uma realização, porque eu sei o que está do outro lado. Eu senti na pele as dores, eu perdi a alegria de viver. Mas eu sei também que é possível encontrar a cura, reencontrar a felicidade e viver em plenitude. Eu luto todos os dias para que o mundo seja curado.”
Uma história marcante que vivenciou foi o caso do filho da Antônia Fontenelle: “Atendi seu filho Salvatore, que começou com crises. Iniciamos o processo e, em três semanas, as crises — que eram fortíssimas — já tinham se estabilizado. Em três meses, finalizamos o tratamento e hoje ele não tem mais crise nenhuma, já recebeu alta”.
Para Vânia, este e outros casos a inspiram e a reflexão que ela deixa é de que “a vida é linda demais para a gente só sobreviver. A gente precisa viver, de verdade. Viver com propósito, com alegria, com plenitude”.